Fotos da 28ª Caminhada da Seca em Homenagem aos mortos do Campo de Concentração de 1932


Todo ano no segundo domingo do mês de novembro acontece em Senador Pompeu/Ce, uma imensa caminhada para homenagear os mortos no Campo de Concentração da Seca de 1932. Na 28ª edição da caminhada que aconteceu no último domingo dia 14 de novembro, mais de 6 mil romeiros partiram às 5:00h da manhã de frente da Igreja Matriz rumo ao Cemitério da Barragem. As almas são consideradas santas, muitos romeiros atribuem graças alcançadas às almas da Barragem, por isso vão agradecer e rezar no local onde foram enterrados os mortos da seca de 1932. Abaixo alguns versos do Cordel a Besta Fera de 32 de Valdecy Alves que bem ilustra a tragédia da seca de 32:



Ocorreu em trinta e dois

Na beira do rio Patu

Com o povo que adepois
Virou janta de urubu
Lhe digo, amigo meu
Nos versos desse poema
Houve em Senador Pompeu
Local do grande problema



Era gente nas estrada

Em cima de caminhão
Na vereda, na chapada
Na serra,no lajeirão
Home, muié, até cachorro
Criança só de montão
Diziam: vou mas num morro
A míngua no meu sertão



Lá em Senador Pompeu

No mei do sertão central
Acredite, amigo meu
Mulher, menino, animal
Chegavam a cada dia
Descalços de pé no chão
Magros,barriga vazia
Para tal concentração



Teve a misera em Canudo

Teve ano setenta e Sete
Onde morreu quage tudo
Velho, bebê o pivete...
E teve a seca do quinze
Aí vei trinta e dois
E por mais que tudo acinze
Seca há de voltar depois



Comecou a mortandade

De fome até repentina
Veio logo a orfandade
Do menino e da menina
Um aqui, outro acolá
Logo, logo às dezenas
Morreno e a lamentar
Até chegar às centenas



Na própria concentração

Faziam enorme valado
Faminto o seco chão
Devorava o flagelado
O céu sem nuvem, azul
A vala no alto do morro
Se fartava o urubu
Se empanturrava o cahorro



Quisera haver paraíso

Que houvesse também um céu
Pra falar e de improviso
Esse pequeno cordel
Pros mortos lá da barragem
Que lá deveriam estar
Vítimas da bandidagem
Das secas do Ceará


Para maiores informações sobre o Campo de Concentração da seca de 1932 acesse:





Valdecy Alves produziu um vídeo da 28ª Caminhada da Seca não deixe de conferir:



FOTOS que fiz da 28ª Caminhada da Seca de em Homenagem aos mortos da seca de 1932:

O sino da Igreja ainda tocava as cinco badaladas da manhã quando os fiéis se dirigiam rumo ao cemitério das almas santas da Barragem do Patu...

Seguindo em procissão, mais de 6 mil romeiros foram homenagear os mortos do campo de concentração e pagar promessas no cemitério da Barragem considerado campo santo...

O  mandacaru nunca viu tantos pés passarem sobre seu chão...

O gavião nunca viu tanta devoção... e para homenagear os devotos das almas santas, voou rumo ao serrote do Patu para de lá contemplar melhor toda a devoção as almas da barragem...


O caminho antes ermo...

torna-se o tapete do espetáculo da fé...

E lá se vão todos eles... nunca a caminhada foi tão imensa... como imensa é a esperança de que essa tragédia jamais se repita...


Pai Nosso dos Flagelados


Pai e mãe nossos
Que estão no céu
Santificados todos os sonhos
Santificadas todas as profecias
Santificada toda utopia
De inclusão e de liberdade!

O pão nosso de cada dia
Que nos foi furtado
Seja feita a vontade de Jesus
Assim na Europa como no Nordeste
Perdoem-nos quando nos deixamos enganar
Perdoem aqueles que nos enganaram
Mas que a justiça puna-os
Mesmo tarda! Mesmo falha!

Não nos deixem
Cair em tentação
De não construirmos nossa Consciência
De não Edificarmos o nosso destino
De  nos omitirmos à   luta
O que é o maior mal
Amém!

Texto da Peça: Campo de Concentração de 1932 de Valdecy Alves


Ao pé do serrote o Patu, todos relembram as dores do povo sofrido da seca de 1932...

Padre Carlos Roberto à frente da procissão...

E cada comunidade trouxe seu estandarte...



O povo santificou as almas da barragem... através delas graças são alcançadas...
vestem-se de branco para pedir paz e prosperidade...
Cemitério da Barragem, local santo onde foram enterrados os mortos do campo de concentração da seca de 1932

O cemitero é retângulo
Ao pé da Serra Patu
Frente a usina triângulo
Jardim do mandacaru
Cercado dum alvo muro
Todo fincado de cruz
A invadir o futuro
Onde possa existir luz !


Sempre tem velas acesa
Gente pagano promessa
O altar bem simples mesa
Onde a fé logo se  acessa
Cego lá voltou a ver
Mudo aprendeu a falar
Morto voltou a viver
Toda a graça a se alcançar


Pra lá vai a procissão
Pessoas do povo, fiéis
Pés ao milhares no chão
Turistas e menestréis
Cantano salmos e hinos
Da época de trinta e dois
Velhas, homens e meninos
Sob o forte sol algoz...

Além de todos lamentos
No local se vê té luz
Gritos vindos com os ventos
Até já viram Jesus
Muita gente alcançou graça
No cemitero tão triste
Mortos sem nome e da raça
Do tal do home que existe...
                   
 ( Cordel: A Besta Fera de 32 de Valdecy Alves)


De pés descalços... uma das formas de pagar as graças alcançadas através das almas da barragem...




Antigo cruzeiro do Cemitério da Barragem

Romeiro com estandarte


Família rezando, relembrando o pai já falecido..



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