POESIAS UNIVERSAIS

Seleção de poesias universais, para saber mais sobre os poetas, basta clicar no nome de cada um e conhecer a sua biografia.


Florbela Espanca

AMAR!


Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui...além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar! Amar! E não amar ninguém!


Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!


Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...


 
VAIDADE

A um grande poeta de Portugal


Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade !


Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo ! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade !
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita !


Sonho que sou Alguém cá neste mundo ...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada !


E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho ... E não sou nada! ...


 




Fernando Pessoa


Não: não digas nada!
Supor o que dirá
A tua boca velada
É ouvi-lo já
É ouvi-lo melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das frases e dos dias.

És melhor do que tu.
Não digas nada: sê!
Graça do corpo nu
Que invisível se vê.


O GUARDADOR DE REBANHOS


Sou um guardador de rebanhos
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.


Alberto Caeiro (um dos heterônimo de Fernando Pessoa)


AUTOPSICOGRAFIA


O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.



Augusto dos Anjos


A IDÉIA

De onde ela vem?! De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cal de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?

Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!

Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas da laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica...

Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No molambo da língua paralítica!



PSICOLOGIA DE UM VENCIDO


Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.


Profundíssimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.


Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,


Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!



Omar Khayyam

RUBAIYAT (em português, "quadras" ou "quartetos")


Além da
Terra, além do Infinito,
eu procurava em vão o Céu
e o Inferno.
Mas uma voz me disse:
"O Céu e o Inferno estão em
ti mesmo."

-

Perderei
ainda muito tempo,
querendo encher o mar com
pedras?
Desprezo igualmente
os libertinos e os devotos.
Kháyyám, quem te poderá
assegurar que irás para o Céu
ou para o Inferno?
Que significam essas duas
palavras?... Conheces alguém
que já tenha visitado
esses países misteriosos?

-

Os dias
passam rápidos
como as águas do rio
ou o vento do deserto.
Dois há, em particular,
que me são indiferentes:
o que passou ontem,
o que virá amanhã.

-

O imenso
mundo: um grão de
areia perdido no espaço.
Toda a ciência
dos homens: palavras.
Os povos, os animais e as
flores dos sete climas:
sombras.
O resultado de tua
meditação: nada.

-

Os sábios
e os filósofos
mais ilustres caminharam
nas trevas da ignorância.
E eram os luzeiros
do seu tempo!...
Em suma, que fizeram eles?
Pronunciaram algumas
frases confusas
e adormeceram fatigados.

-

Convence-te
bem do seguinte:
Um dia tua alma abandonará
o teu corpo e serás
arrastado para trás do véu
que flutua entre o universo
e o incognoscível.
Enquanto esperas,
cuida de ser feliz!
Não sabes de onde vens.
Não sabes para onde vais.

-

Baixinho,
a argila segredou
ao oleiro que a trabalhava:
"Não esqueças
que já fui como tu...
Não me maltrates..."

-

O bem e o mal disputam
a primazia neste mundo.
O Céu não é responsável
pela felicidade ou pela
desventura que o destino
nos reserva.
Não agradeças, pois, ao
Céu, não o acuses também.
Ele é indiferente às tuas
alegrias, indiferente
aos teus pesares.

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